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Receita de caracóis à algarvia



Publiquei esta receita noutro local, os caracóis ficam perfeitos, de comer e chorar por mais. Como aí digo, um bom preconceito não vale um caracol. Se nunca provou, atreva-se. Vai ver que vai gostar.

Eis a receita:



Idealmente, o leitor apanharia os seus próprios caracóis. Passearia, assim, pelo campo, respiraria ar puro e os odores da terra e, mais importante, saberia a verdadeira proveniência dos seus caracóis (não os apanharia nas imediações de uma ETAR, de uma estrada cheia de emissões de escapes de automóveis, etc.)

Antes de lhes apontar a panela como destino, deixaria os gastrópodes alguns dias numa caixa de madeira ou num saco de serapilheira e alimentá-los-ia com farinha de trigo ou rodelas de batata, para que perdessem o visco, as toxinas e o sabor acre de algumas ervas, aproveitando ainda para os engordar um pouco mais.

Mas o leitor não é dado a passeios pelo campo ou os únicos caracóis de que dispõe nas redondezas são produzidos em salões de cabeleireiro. Pois bem, compra-os (a medida tradicional é o litro) e salta os passos anteriores, dirigindo-se de imediato ao tacho. Começa por lavar os bicharocos em várias águas até que não haja vestígios de visco. Põe-nos na caçarola, cobre-os de água, junta-lhes com generosidade uns quantos dentes de alho esmagados com a casca e coloca-os em lume muito brando para que, com as suas anteninhas, espreitem para fora das conchas e se torne mais fácil alcançá-los. Entretanto agarra numa boa quantidade de paus de orégão (apenas os paus, já que as folhas tornam o petisco mais amargo), acrescenta-os ao tacho e tapa-o. Ao detectar que as alimárias deixam de se mover, aumenta o lume.

Espera que esteja quase a levantar fervura para lhes juntar o sal. Dois bons punhos, sem medo. Deixa ferver quatro ou cinco minutos, prova-os, corrige o sal se necessário (ou desliga o lume e deixa-os dentro da panela outros quatro ou cinco minutos para que absorvam o sal suficiente), escorre-os, serve-os e delicia-se, caçando-os com a ajuda de um alfinete, espeto ou pico de piteira.

Acompanha com cerveja ou vinho branco bem gelados e pão torrado com manteiga. Se não os provar, mais fica para nós e quem perde é o leitor. Um bom preconceito não vale, afinal de contas, um único caracol.

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